11/05/2015

Dia da mãe que TE pariu

Acho chato isso de datas comemorativas. A distância física da família e dos amigos e o passar dos anos só faz essa minha preguiça aumentar. Mas não foi sempre assim.

Eu gostava da Páscoa e do Dias das Crianças, quando criança. Óbvio que gostava. Adorava ganhar ovos de chocolate e brinquedos novos nessas datas. Gostava do Natal também, de comer nozes, rabanada, montar árvore e quebrar bolinhas, de rasgar os pacotes de presente, da figura do Papai Noel. Eu gostava de colorir gravatinhas de papel para o Dia dos Pais e de ensaiar a musiquinha do Dia das Mães. Mas ainda na infância essas festinhas no colégio começaram a me incomodar.

Eu tinha um amiguinho da escola que não tinha mãe. E sempre que a professora propunha um presente criativo para o Dia das Mães eu ficava imaginando o que ele ia fazer e, o pior: pra quem ia dar. Eu evitava olhar para ele nessas horas. Não queria ter pena dele. Não sabia o que fazer por ele. Eu só imaginava ele chegando em casa com aquele presente e não ter para quem entregar. Eu tinha para quem entregar. Ele, não.
Um dia experimentei, de leve, aquela sensação dele. Preparei o presente, ensaiei o raio da musiquinha e a dinâmica daquela festa maldita era cantar a musiquinha com uma flor na mão, cada aluno olhando para sua orgulhosa e emocionada mãe, e depois entregávamos a rosa e o presente para a mamãe chorosa. E todos se abraçavam e eram felizes. Só que minha mãe ficou presa no trabalho e não conseguiu chegar na festinha. Sim, porque esses eventos inconvenientes eram sempre tipo numa sexta, às 3 da tarde. Como se ninguém trabalhasse. Como se todos os chefes de mãe fossem compreensivos e liberassem suas subordinadas às 2 da tarde pra ouvir uma cantoria desafinada, receber uma flor e borrar a maquiagem abraçada à sua prole.
Enfim, minha mãe não foi e eu não sabia que ela não iria. Passei a porra da música inteirinha procurando por ela no meio daquele monte de lágrimas sorridentes. Acabou a música e cada um correu para seu colo materno. Eu não achei o meu. Pensei em comer a rosa e fingir que não era comigo, mas eu tava chorando e me sentindo só. Fiquei com medo de engasgar. Guardei aquela rosa cafona e nem me lembro como foi o resto do dia. Só lembro que nenhuma daquelas mulheres era minha mãe e que eu era a única a sair da escola com uma rosa na mão. Perdida. Sem mãe.
Mas, ainda assim, ao chegar em casa eu teria a minha mãe. Todos os comerciais de Dia das Mães poderiam ter sido feitos para a minha família. A rosa cafona saiu do colégio na mão errada, mas seria entregue à mão certa. Mais tarde, mas seria. E meu amiguinho? O que ele faria naquele domingo em que os restaurantes têm filas homéricas e as floriculturas raspam seus estoques? Brincar com quem, já que todos os amigos dele eram obrigados a passar o dia com suas mães (ainda que não quisessem)?

Os anos passaram e lidar com datas foi ficando cada vez mais chato para mim. Com o tempo, meu conceito sobre diversas imposições sociais foi se formando, mudando e/ou solidificando. Um deles é sobre essa coisa do Dia das Mães.
É o dia em que todo mundo dedica sua atenção e um presente à sua progenitora. Que legal. Passa o ano todo cagando pro que ela diz e se achando o ser mais esperto do mundo, aí resolve separar UM dos 365 dias pra levá-la pra almoçar e escrever palavras bonitas num cartão. Ou num email. Ou no whatsapp. Dá uma batedeira nova, um vestido, um bombom e agradece, cheio de orgulho, por ela ser sua mãe. No mesmo dia em que todo mundo faz isso. O tal do dia que alguém, que eu não sei quem foi (nem tô interessada), disse ser o Dia da Mãe. Da mãe de quem? Da minha, não. O dia da minha mãe pode ser uma segunda de verão, um sábado de primavera, uma terça de carnaval. Quem disse que é o 2º domingo de maio? Diazinho mais sem graça... E nego é muito esperto, porque botou bem ali pro meio do mês, quando o salário já saiu e dá para investir legal em presentes, né?

O dia da minha mãe é o dia em que ela nasceu. O dia em que minha vó botou no mundo uma criatura incrível, iluminada, de bom coração. Essa mulher cheia de amor dentro de si e que dedica esse amor não só a mim, mas a quem mais ela puder, não é só mãe. É uma mulher! E a cada aniversário eu agradeço por aquele ser o dia que marca mais um ano da existência dela no mundo.

"Ah, mas ela poderia não ser mãe e o dia do aniversário dela seria comemorado da mesma forma". Ora... Então comemoremos o dia em que ela se tornou mãe! O dia do meu nascimento! Se tem 3 filhos, comemore 5 vezes: o dia em que a mãe dela nasceu, o dia em que ela tornou a mãe dela mãe (seu aniversário), e as 3 vezes em que ela gerou vidas!
"Mas ela não gerou. Adotou". Comemore o dia da adoção, o dia do nascimento daquela criança que a tornou mãe... Enfim, faça os SEUS dias das mães. E que eles sejam únicos. E que não sejam obrigações. E que tenham amor.

E parem, escolas, de constranger e entristecer meu amiguinho! Coisa mais desagradável isso! A mãe dele morreu. A mãe dele fugiu com um circo. Ele não sabe quem é a mãe dele. Ele tem duas mães. A mãe dele é um homem que ele chama de pai.