18/08/2011

Chorar ou não chorar? Eis a questão!

Jovem, bonita, amante da liberdade (de expressão, de ideias, de comportamento), batalhadora e cheia de sonhos - assim é Gisela. Parece a figura da mulher perfeita, aquela que topa tudo, que ri muito, que é cheia de amigos, qua adora viajar. Mas ela tem defeitos, acredite.

Tem TPM, é ciumenta, insegura, um pouco autoritária. Ela luta para não demonstrar nada disso, mas é tão autêntica que tudo aflora, fica estampado na cara. Mas acaba que suas qualidades muitas vezes suavizam, ou mesmo anulam, o seu lado difícil.

Gisela é daquelas pessoas que vivem intensamente. Se ama, ama muuuuuito. Ela não ri, ela gargalha. Não apara as pontas do cabelo, ela pede para o cabelereiro tosar. Gisela não é de ligar para desejar "feliz aniversário", mas de organizar a festa. Se bebe, toma um porre. Se vai bater um papo, vira a noite falando. Já que vai num show gringo, googla todas as letras que não conhece para poder cantar bem alto. Se matricula na academia e resolve virar miss fitness. Ela é assim. Na veia.

Desde o primeiro beijo na boca até seus 24 anos, essa conduta visceral proporcionou à Gisela muitas histórias, muitos amores e, obviamente, uns tantos dissabores. Mas a maior desilusão foi há 1 ano e meio, mais ou menos.

Do nada, um amigo do amigo do amigo apareceu na vida dela. Se conheceram numa pré-night (também conhecida como "esquenta") que o amigo do amigo fez na casa dele. Conversaram horrores, riram muito e descobriram muita coisa em comum. Frequentavam a praia no mesmo local, participaram das mesmas chopadas, tinham conhecidos em comum. Ela já morou no bairro em que ele mora. Ele nasceu no hospital em que a mãe dela trabalha.

Enfim, havia uma night ainda pela frente, né? Foram todos para a mesma festa, cuja promessa era reunir a maior quantidade de gente fina, elegante e sincera por metro quadrado. Chegando lá, ele pegou um drink para ela. Gisela é pegadora, mas estava curtindo aquele climinha e nem fez questão de pegar o drink e dar uma volta pela festa para ver o "cardápio" da noite. Naturalmente engataram um papo animado, riram muito dos bêbados presentes e dançaram. Gisela resolveu ir ao banheiro e, quando ia chamar as amigas para irem com ela, ele disse "vou contigo". Já entendendo o que estava por vir, ela só comunicou às amigas que já voltava. Elas já sabiam o que isso queria dizer.

Bem cavalheiro, ele esperou Gisela encarar aquela fila monstruosa do banheiro feminino. Quando ela voltou (devidamente penteada e com a mão lavada) falando "vamos?", foi só o tempo de ele tascar um beijo naquela boca que passou a noite inteira querendo a dele. Sim, ficaram juntos a noite inteira e ele a levou em casa.

No da seguinte, ela acorda com uma mensagem dele no celular: "Alguma chance de jantarmos hoje?". Ao que ela respondeu, sem rodeios "Você me pega que horas?". Jantaram, beijaram muito, conversaram mais um monte. Naquela semana, se viram mais umas 2 vezes. Ele sempre muito carinhoso. Ela, como previsto, encantada.

Na semana seguinte, se viram todos os dias. Foram juntos para uma micareta que era a maior promessa de pegação. Os amigos dele zoavam, as amigas dela também. Mas eles não estavam nem aí. Curtiram a micareta com seus amigos, se divertiram e só saíram quando tudo acabou. Todo mundo perguntando "Vocês estão namorando?", ao que ambos respondiam com um sorriso.

Ele ligava para ela todo dia. Ela também ligava para ele. Se falavam 2 ou 3 vezes por dia. Até que lá pela terceira semana, ele foi buscá-la para jantar e apareceu com uma linda orquídea (sua flor preferida). Ela achou lindo, mas só entendeu mesmo quando abriu o cartão, onde estava escrito "Namoro ou amizade? Você decide!". Óbvio que quase desmaiou e o encheu de beijos.

Um tempinho depois, aquela coisa de apresentar à família. Ela foi a primeira, recebendo ele em sua casa, com a presença dos pais, para comer uma pizza. Os pais de Gisela adoraram aquele rapaz. Bonito, simpático, inteligente e, o melhor, super carinhoso com a filha deles. Depois ela foi no aniversário da prima dele. Os pais dele adoraram ela, ficaram impressionados como ela entendia de culinária (ela passou boa parte do tempo trocando receitas com as tias dele).

Veio a comemoração de 1 mês de namoro. Tudo muito romântico. Uma semana antes de completarem 2 meses de namoro, saíram com os amigos para planejar a viagem do próximo feriadão. Ele estava meio sério. Ela percebeu, mas passou a noite gargalhando e fazendo a lista de compras para o feriado. Pela primeira vez, ele não ligou para dizer que havia chegado bem em casa. Quando ela ligou e perguntou por que ele não tinha ligado, a resposta foi um simples "esqueci". Ok, ela não estava afim de discussão por um problema tão pequeno.

A 3 dias do feriadão, ela resolveu fazer uma surpresa e pegá-lo no trabalho para jantar. Ele curtiu a surpresa, mas passou o jantar meio sério, falando sobre política, sobre o time dele e mais outras tantas coisas nada a ver. Ao deixá-lo em casa, perguntou por que ele estava tão estranho. Ele começou com "o problema não é você..." e ela já sabia o que aquilo significava. Experiência. Já tinha ouvido aquela frase. Nem deixou que ele terminasse. Só perguntou por que ele disse que a amava, ao que ele respondeu que "achava que a amava, mas se enganou". Se enganou???

Gisela falou todos os palavrões e xingamentos que conhecia, enquanto ele ficava quieto, de cabeça baixa. E sem derramar uma lágrima, mandou que ele saísse do carro dela (aos berros, claro) e que nunca mais se enganasse com ninguém. Ele foi embora. Ela ficou 2 minutos estática, com aquele bolo na garganta, mas estava determinada a não chorar. Ligou o carro e ficou com a mente vazia. Se perdeu no caminho para casa, o pensamento estava longe. Estava muito triste, mas tinha certeza que se derramasse a primeira lágrima nunca mais pararia de chorar. E como morria de medo de entrar em depressão, decidiu não sofrer.

Não ligou para nenhuma amiga. Só comunicou aos pais e pediu que não fizessem nenhuma pergunta. No dia seguinte, falou para as amigas que não iria mais viajar com a galera no feriadão, contando o fim do namoro bem por alto. Jurou que não estava sofrendo. Duas das amigas desistiram da viagem e resolveram comprar ingressos para as 3 irem numa festa maneiríssima que ia rolar bem no feriado. Foram, se divertiram, beijaram muito, e Gisela... nenhuma lágrima!

Um tio morreu e Gisela não chorou. Uma amiga sofreu por amor e Gisela não chorou. Aquele filme que em outro momento a mataria de tanto chorar, ela não assistiu (sabia do risco). A filha de uma amiga nasceu e nada de lágrima. Aquilo começou a assustar Gisela. Será que ela não tinha mais sentimentos? Será que estava seca por dentro? Será que nunca mais ela se emocionaria novamente?

Até que um dia, mais de 1 ano após o acontecido, mais de 1 ano sem chorar, Gisela estava assistindo TV e viu um comercial lindo de Dia dos Pais. Tentou segurar, mas não deu. Chorou assistindo o comercial. Continuou chorando quando ele acabou. E, finalmente, chorou pelo fim do namoro, pela morte do tio, pelo sofrimento da amiga, pelo nascimento da bebê. Passou horas chorando sem parar. Se entregou àquele momento e, ao mesmo tempo, ficou feliz po saber que ainda tinha sentimentos profundos.

No dia seguinte, a cara inchada no espelho mostrou para ela duas coisas: uma pessoa intensa como ela jamais conseguirá não ter mais sentimentos; é melhor chorar aos poucos, porque nem o melhor corretivo do mundo dá jeito numa olheira pós-choro-acumulado.

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